quarta-feira, 30 de junho de 2010

Beleza Pura

Beleza do Embaú

Verão de 95, Guarda do Embaú, uma das praias mais bela do nosso litoral. Localizada entre Garopaba e Florianópolis, a Guarda, como é carinhosamente chamada por todos, é o paraíso das ondas e da natureza. Já tinha me aventurado por lá anteriormente, mas apenas para surfar o dia inteiro, chegando de manhã e voltando para Garopaba no início da noite.

Foi quando o Ary Filgueiras, baiano da gema e gaúcho de coração, perguntou: estou indo pra Guarda passar o verão e trabalhar numa pizzaria na beira do rio da Madre. Quer ir junto? Nem pensei duas vezes. Era início de dezembro, então seria no mínimo 3 meses de surf e trabalho. O alojamento era feito de madeira e tinha algumas frestas, que descobrimos com a chegada do vento sul. Mas quem se importa com esses detalhes quando se está colado no rio e perto do mar.

A pizzaria Beleza Pura pertencia ao californiano Richard, que montou base na Guarda e ficou amigo do Ary. O Ary frequentava a praia e conhecia todos locais, o que facilitou as coisas em nossa chegada. A onda é tida como uma das melhores do Brasil, a disputa por elas é ferrenha, e o localismo se impõem aos forasteiros diariamente. A solução é chegar como quem não quer nada e comer pelas beiradas até chegar sua vez, e quando isso acontecer, faça bonito, pois se não o fizer certamente será sua última.

As pizzas eram vegetarianas e assadas numa pedra que o gringo trouxe de São Tomé das Letras, em Minas Gerais. Aprendi a fazer o molho, que passou a ser minha função do dia. O Ary fazia as pizzas e mais uma vez a parceira estava formada. Produzia o molho de tarde e surfava praticamente todo dia. Era a vida que eu queria para sempre, cozinhar e surfar.

Foi ali que aprendi a usar ervas secas nos molhos e a hora certa de colocá-las na panela. De preferência após refogar uma cebola, por exemplo. Ervas frescas, por incrível que pareça, não era muito comum quinze anos atrás. Aprendi também a tirar a pele e a polpa do tomate, reduzir o molho até que fique encorpado, e todos os detalhes que diferenciam um bom molho de um medíocre.

Fui curtindo essa função e me apaixonando pela alquimia dos molhos. Executá-los com perfeição é o grande momento de um cozinheiro. O molho fala quem é você: desleixado ou perfeccionista. Quem faz de qualquer jeito, nunca será um bom profissional. Mas aqueles que se dedicarem a arte com persistência, serão recompensados. Podem apostar.

O verão no Beleza Pura deixou saudades e boas lembranças. Como é bom poder recordar essas histórias e ver que elas, de alguma maneira, influenciaram na escolha da minha profissão.

3 comentários:

  1. Que massa esse seu post Felipão. Boas recordações!! Vi uma vez um discurso de Steve Jobs quando ele foi paraninfo de uma formatura em Standfod na California. O guru da tecnologia fez uma retórica emocionante e o que mais me marcou foi quando ele falou sobre unir os pontos. O cara largou as aulas tradicionais na faculdade para fazer um curso de caligrafia porque ele achava lindo. Mais tarde, lá na frente, o aprendizado dele com aquele curso que parecia não iria levá-lo a nenhum lugar, se tornou o maior diferencial dos computadores apple: o design.
    Bom ver você unindo os pontos!!!
    Um forte abraço

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  2. Connecting the dots! Lindo mesmo, de chorar esse discurso do "homi". Tu estavas lá presente nessa experiência, e posso dizer que é muito gratificante saber que vivi tudo isso ao lado de um brother como vc!
    Grande abraço

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  3. A recíproca é verdadeira meu irmão. Connecting the dots, thats all and we're always doing.

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