sexta-feira, 24 de julho de 2009

Presque

"Quase", não existe na cozinha de Joel Robuchon.
São 24 estrelas do Guia Michelin.


Estava navegando e cheguei nesse texto que reproduzo abaixo escrito pela Sarah Westphal Batista da Silva. Creio que muita gente já deve ter recebido por e-mail. Tem uma história interessante por trás dessa crônica. Durante dois anos ela foi creditada ao nosso querido Luís Fernando Verissimo. Chegou a fazer parte de um uma coletânea lançada na França com o nome traduzido para Presque. Estava ao lado de outros autores de peso como Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Numa coluna escrita em 2005, Verissimo disse que gostaria de encontrar o verdadeiro autor para agradecer a glória emprestada.

Fiquem com o Quase

Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez é a desilusão de um "quase". É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa bendita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Um comentário:

  1. Eu não conhecia este texto e não pode ser mais perfeito. Como te conheço muito bem, sei que a desilução do "quase" não costuma fazer parte da tua vida, já que fazes de tudo para alcançar teus objetivos e ideiais. Nem que seja para receber um convicto "não", ou o contrario, tornar real muitos desejos teus. Que continues realizando, fazendo e vivendo... Sempre!!
    Te amo,
    Cris

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