quarta-feira, 21 de julho de 2010

O caldo polêmico

Como feito em casa. Aham...

Fui intimado a escrever esse post. Meu amigo Bruno Dornelles enviou recado via facebook: "Tenho uma pauta pro teu blog, Sica. Te desafio a escrever sobre a venda do corpo ao capeta que o Atala fez ao fechar com o caldo Knorr. PQP, eu que não entendo nada de cozinha e sei que ele se vendeu afuuu ali. Quero ver, manda lá! Chega dá uma tristeza ver ele cheirando aquela meleca se derretendo e fazendo humm..."

Antes de opinar ouvi de um dos meus mestres - Mamadou Sène - sobre o assunto. Ele disparou: "como dizem aqui no sul: quando eu vi a propaganda me caiu os butiás do bolso". Ou seja, ficou incrédulo.

Essa foi minha reação também ao ver a propaganda. Incredulidade. Quase cai da cadeira, tamanho o susto. Pode parecer um exagero, mas trata-se de Alex Atala, chef do D.O.M., único restaurante brasileiro na lista dos 50 melhores do mundo. Quer mais? Escreveu Escofianas Brasileiras pela editora Larousse, leitura obrigatória para profissionais e amantes da gastronomia.

O Atala seria o último chef que eu pensaria, caso fosse questionado sobre quem é o novo garoto propaganda da Knorr. Por que? Pela sua história, que sempre focou na técnica e perfeição na execução dos pratos, além de enaltecer a gastronomia brasileira em suas criações.

Analisando por outro lado, atrás da marca Knorr está a Unilever, gigante player no mercado internacional de alimentação, cosmésticos e outros tantos tentáculos. A campanha do potinho dos caldos é mundial e por aqui decidiram utilizar a imagem de um chef que desse credibilidade ao produto. Certamente ele levou uma bolada pra fazer esse merchan.

A conclusão que cheguei: para os leigos pode ter funcionado, mas para os gourmets e experts pegou mal.

13 comentários:

  1. Sabe que esses dias rolou um papo desses no twitter. Onde eu disse que sentia dor no coracao cada vez que via o atala nessa propag. e um outro blogueiro rebateu dizendo que sentia pena era da unilever. AHM?? Mas a real é essa mesmo a galera da gastrô pode não ter aprovado, mas o foco é na massa e é ai que vão faturar mesmo. Deve ter rolado MUITAAA grana pois pelo que podemos conhecer do Atala esse caldinho passa por cima dos principios dele na cozinha.
    Abs
    www.bistrodacoralina.com.br

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  2. Também, na minha sincera opinião, o Atala forçou a barra na propaganda do "caldinho".
    Mas que ele deve ter ganho uma grana e que a Unilever também vai ganhar uma grana, não tenho dúvida nenhuma.
    Mas tenho que te confessar uma coisa, Sica (sem desmerecer, nem polemizar): Eu fiz um curso com o Mamadou um tempo atrás em que ele também usou um tablete de caldo de legumes em uma preparação.
    Com todo o respeito e sem desmerecer ele (que considero um ótimo chef e professor), mas na minha opinião pegou mal e me fez "cair os butiá do bolso" também.
    Enfim, essas coisas podem acontecer por esse ou aquele motivo.
    Abraço do Otto
    PS: Quase fui teu aluno no curso de Massas e Molhos, no Senac. Acontece que me atrasei na inscrição e quando fui ver, não tinha mais vagas :-(

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  3. É, Felipe, essa é a conclusão mesmo: tudo pela grana. Nao adianta, todo mundo tem seu preço. Preço que faz ir contra os proprios principios, inclusive. Eu sigo com a minha opinião de leigo na alta gastronomia, mas leve conhecedor do comportamento humano: ele se vendeu pro Capeta! ehehehehhe

    Mas ta show teu post e obrigado por atender tao prontamente teu leitor aqui. COmo sempre, aliás! :)

    Abração!

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  4. Oi pessoal. A idéia do post, mesmo sob encomenda, é dar minha opinião e levantar alguns fatos conhecidos por todos. Afirmo ao Otto que quem está sem butiá nenhum nos bolsos agora sou eu. Daqui por diante vou passar voando pela prateleira dos caldos prontos para não me comprometer...rs
    Abraço a todos

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  5. Grande Sica,

    Isso é assunto polêmico. No livro do Santi Santamaria, "A cozinha a nu", ele menciona o envolvimento do Ferran Adriá com uma marca de alimentos industrializados e, claro, cai matando em cima do cara. Há uma "rivalidade" entre a linha de cozinha que os dois seguem, publicamente declarada pelo Santamaria. Mas voltando ao caldo (ralo... *risos*) Eu já vi restaurante de hotel francês, de rede internacional, que usava caldo demi-glace da Nestlé. Não me espanto e até entendo alguns motivos (produção, higiene, etc). Isso é debate para ampliarmos para vários meandros, mas na minha opinião o Atala não mancha a sua cozinha e o que ele construiu nesse tempo todo. Temos que compreender, que além de ser o cozinheiro que ele é, o cara é business man e a grana de um trabalho assim pode ser a ponte para outros projetos pessoais a realizar. Quem sabe?! Acho puritanismo dizer que o cara se vendeu! Business é business!

    E quanto a usar caldo de cubinho, atire a primeira frigideira quem nunca fez um "caldo instantâneo" para aquele risotto de última hora em casa! Cozinheiro sabe que dá trabalho, toma tempo e nem sempre temos tudo na despensa ou geladeira.

    Ainda bem que entrei anônimo aqui! Hahaha!

    Abração,

    Chef Anômino, professor do Senac e seu brother!

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  6. Não atiro nenhuma frigideira, GN ou caçarola (HAHAHAHA) porque já usei inúmeras vezes um tablete ou sachê misturado com agua pra fazer aquele caldinho pro risotto ou pra minestra.
    Mas ver isso sendo usado em uma aula de gastronomia, num local onde existe um curso de formação e alguns auxiliares na aula que poderiam ter feito o caldo para a aula (ou até mesmo anteriormente e ter congelado) são outros 500, entende? Isso é que me causou estranheza...
    Mas ele deve ter tido os motivos dele pra fazer aquilo e eu, ao meu ver, tenho os meus pra questionar.
    De novo, tenho muito respeito e admiração pelo chef em questão, que com certeza não se abalaram com o ocorrido.
    Um abraço à todos e bom final de semana,
    Otto

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  7. Para isso que um blog serve! Discutir assuntos, expor idéias, atirar panelas! *risos*
    Show de bola!

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  8. É isso aí gente, o assunto é bom e rende um belo debate, como estamos fazendo aqui, com respeito e alto nível. Ao meu amigo e colega anônimo...rsrs, posso dizer que ainda sou um romântico e puritano. Sei que esse romantismo, com o tempo, pode diminuir (ou aumentar). E os puritanos, como eu, ficaram chocados, pois os ídolos são construídos e nós os exaltamos.

    A mídia especializada ajuda na construção dessa imagem. Tudo é uma questão de posicionamento. Se saio falando aos quatro ventos que sou contra algo e prego isso com veemência, e daqui a pouco mudo de opinião, certamente serei questionado sobre essa atitude.

    Ainda sobre o caldo industrializado, usei uma vez quando leigo, e odiei, achei salgado e com gosto muito marcante. Depois dessa experiência frustrada, nunca mais. Prefiro ferver por um tempinho um alho poró, cenoura, salsão e cebola e tirar um sabor suave, mas natural e sem conservantes.

    Sobre o uso de caldos industrializados em restaurantes, não podemos exigir de estabelecimentos comerciais com foco em quantidade que use caldos clássicos. A atenção deles é apenas no lucro e entregar uma alimentação decente, sem se preocupar com detalhes e técnicas, o que é diferente de um restaurante gourmet, onde as técnicas e produtos frescos e de alta qualidade são de extrema importância.

    Uma aluna do curso de Massas e Molhos que ministrei no Senac, me disse que fez uma aula com o Atala e ele falou pra o público presente passar longe da prateleira dos caldos industrializados. Ela mesmo ficou de cara ao vê-lo como garoto propaganda dessa empresa.

    Certamente negócios são negócios, e esse deve ter sido um dos bons. O respeito pelo chef e mestre que ele é, continua. Meu puritanismo não é extremo ao ponto de tocar fogo na minha Bíblia Escofianas Brasileiras...rsrsrs

    Grande abraço

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  9. Opa, mais lenha pra fogueira!

    É indiscutível a qualidade de um fundo feito com ingredientes frescos e naturais! Infinitamente melhor! Como professor de um curso que ensina as técnicas clássicas é meu dever mostrar que frescor e qualidade são regras na cozinha, seja para produzir prato-feito ou para a alta gastronomia. Portanto, não há discussão nisso. O artificial nunca substituirá o natural.

    Outro ponto importante: quem de nós, profissionais de cozinha, não se sentiria altamente reconhecido e gratificado ao ser escolhido por uma grande empresa alimentícia para ser seu garoto propaganda?! Imagina estar no lar de milhares de brasileiros, vendendo um produto que a massa consome?! Quem era Alex Atala para o povão antes da Knorr escolhê-lo para vender seus caldos?

    Feito grandioso do Atala! Porque o cara vende caldinho pronto não quer dizer que ele use o caldinho pronto em sua cozinha. Tenho certeza que esses produtos passam longe da despensa dele!

    Me lembro quando o Jamie Oliver começou com seus programas, se lançou como chef de TV e começou a difundir sua culinária jovem. Foi altamente criticado por caras como Gordon Ramsay e outros na Inglaterra. E agora, Mr. Ramsay tem também seus programas de TV e eu duvido que ele faça somente por fazer. Business é business!

    E bom não dizer que dessa água nunca beberemos...

    Grande abraço,

    Marcus

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  10. O assunto tá bom hein! Na minha opinião não dá para aceitar não! O cara tá falando na primeira pessoa, botando a mão dele no fogo. Mais, caldo de legumes, ou de carne, natural é o máximo do auto-sustentável numa cozinha. Pq ensinar a por fora as aparas das cenouras e as folhas do salsão? Agora , não posso deixar de usar um gancho sobre um trecho do comentário do Felipe que diz :"A mídia especializada ajuda na construção dessa imagem". Não sei se concordam e não vou colocar como uma sugestão de pauta para não colocar o chef em saia justa,mas é impressão minha ou estamos com problemas sobre a mídia especializada neste assunto, aqui pelas bandas do sul? Acabei de receber o último exemplar de uma revista que se propõem a escrever sobre o assunto e muito me deixou assustada. Pauta frouxa e totalmente em cima de lobby! Acho que fiquei antiquada, sou do tempo que queria um chef ou um cozinheiro de fato fazendo minha comida e não um RP.
    Abraço a todos.

    Cozinheira chef de um restaurante desta cidade.

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  11. Grande chef Marcus, elevando o nível do debate, além de ser um colaborador assíduo do blog. Reafirmo que meu posicionamento sobre o assunto é um só: coerência. Já imaginou um Laurent, Claude ou Sudbrack fazendo um comercial desse? Não condiz com a trajetória e história deles, assim como a do Atala.

    Imagino a Ana Maria Braga ou Anônimus Gourmet fazendo o merchan. Eles sim, falam com esse público, leigos, porém amantes da boa mesa. Dizer que dessa água não beberemos é hipocrisia. Não é esta questão. Dentro da indústria alimentícia existe uma gama de produtos que eu ficaria feliz em representar.

    Tudo na vida é uma questão de escolha. Cada um faz as suas e arca com as consequências de seus atos. Se o chef em questão dorme tranquilo, enquanto nós aqui debatemos sobre o assunto, bom pra ele.

    Não sei se eu dormiria tranquilo neste caso.

    Um abração

    Oi cozinheira chef, seja bem-vinda. Seria legal se revelasse sua identidade. Suas palavras ganhariam mais força. O blog não foge do debate se o assunto for relevante. Esta é uma forma saudável de troca de idéias e opiniões.

    Vamos aos fatos. Existe assessorias de imprensa que trabalham para restaurantes e chefs de cozinha. O trabalho deles é levar a notícia de seus clientes para a mídia, seja ela especializada ou não. Se o conteúdo for interessante, publica-se. Caso contrário, não ganha uma linha. Isso é decidido pelo editor ou colunista do caderno ou da revista.

    Eu não acho legal quando existe a compra de anúncio em publicações e isso interfira no conteúdo da mesma. Só não é feio se estiver com o selo de "informe publicitário", assim todos sabemos que a matéria foi paga.

    Eu busco informação de qualidade sempre. Se me deparo com uma publicação dessa e observo isso que você mencionou, nunca mais compro ou leio seu conteúdo. Pra mim é o mesmo que comer comida mal feita, sem sabor, sem tempero.

    Credibilidade não se conquista assim, o publico mais cedo ou mais tarde se dá conta, tanto se o chef ou restaurante é fraco, quanto a revista tendenciosa.

    Um abraço

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  12. A questão aqui, para mim, é anterior a simplesmente grana: quem está realmente disposto a viver de uma forma mais integrada. Vocês sabiam que 70% do alho vendido no Brasil é importado (e chegou a quase 90% em abril de 2010)? E a maioria da China. A custo de quê? As gôndolas do Zaffari e outros não informam isso, mas... é assim que comemos alho. Os produtores nacionais estão com um processo antidumping. Porém, a maioria das pessoas não sabe disso, nem quer saber. Quais os custos, ambientais e sociais que não estamos vendo? Pois é, o caldo knorr é detalhe. Enquanto não houver disposição individual de realmente olhar para o modelo convencional, seguiremos nesse barco. E esta tudo ok! Afinal, um dia, todo barco funda mesmo. É apenas uma questão de manutenção e tempo (mais manutenção, mais tempo / menos manutenção, menos tempo). De qualquer forma, eu me movo como em manutenção constante! Abraço e parabéns pelo blog!

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  13. É isso Pryia, esse assunto leva a vários caminhos. O que dissestes é mais um deles, não vejo como mais ou menos importante do que debatemos, afinal, falamos de ética, moral e gastronomia, é claro.

    Sou a favor de buscar o máximo de produtos que consumimos perto da nossa localidade. Parece óbvio, mas não é. Outro dia fui ao Paulinho Cobal. Fiz um tour com o próprio Paulinho pelas gôndolas e pasmem, quase nada era produzido aqui...

    Os custos sociais e ambientais são grandes, com certeza. Temos que fazer nossa parte e buscar em feiras orgânicas o máximo de alimentos que conseguirmos para nossa família. Prego aqui nesse blog por uma alimentação saudável e orgânica. Mas sei que viver 100% orgânico aqui no Brasil ainda é difícil.

    O debate é grande, mas sempre válido.

    Um abraço

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